quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Can You Be Mine. (Thirteenth)

13º  Capitulo

  Sim, talvez, quem sabe, tudo esteja voltando ao normal depois de uma longa semana. Menos minha mãe, que só piora. Seus batimentos cardíacos, que antes estavam estáveis, agora estão bem acelerados; os médicos insistem em me dizer que está tudo bem, mas eu sei que não está.
  Faltam alguns dias para o natal, e eu recebo uma ligação de um número desconhecido.
  “Ao menos não é do hospital.”
 -Alô? –atendi.
 -Margo?
 -VÓ TINA?!!?!?!?
 -Sim meu amor! É a vovó!!
 -Ai meu Deus vó!!! A que devo a honra de sua ligação? –tentei parecer animada.
 -Estou ligando para dizer que o vovô e eu estamos indo passar o natal com vocês!!
 -Comigo e com a Agatha?
 -Agatha está aí? Tudo bem! Com Agatha, você e sua mãe!
  Eu queria dizer a ela que não tem natal com minha mãe, que não tem ceia de natal sem minha mãe, que minha mãe está morrendo no hospital, mas o choque de saber que ela não sabe sobre o estado da minha mãe me fez congelar.
 -Margo? Querida? Ainda está aí?
 -Sim, vó. Desculpe.
 -Então passe para sua mãe pra eu tratar das coisas da ceia com ela.
  Agora eu quero gritar.
 -Vó, a senhora não sabe né?
 -O que eu não sei querida? –seu tom era o mesmo ainda.
  Respirei fundo e joguei:
 -Vó, olha, não sei porque ela não havia te dito, tudo bem? Eu quero que a senhora não me culpe, porque eu não fazia ideia de que a senhora não sabia.
 -O que eu...
 -Deixa eu terminar. Minha mãe está internada. Ela ta com uma depressão profunda, dessas que o paciente escolhe ficar inconciente. Que é cedado para não sentir nada. Mas não pelos médicos, pelo proprio cérebro. Vó não vai ter natal! Não vai ter ceia! NÃO VAI TER NATAL SE EU NÃO TIVER MINHA MÃE. E POR FAVOR, EU NÃO PRECISO DA SENHORA AQUI COMIGO TA BOM? EU TE AMO, MAS EU TO BEM. EU QUERO FICAR AQUI. SEM NINGUÉM. SE EU PUDESSE, ATÉ SEM A AGATHA EU FICARIA, MAS NÃO DÁ. ELA VAI FICAR. MAS LONGE DE MIM –é claro que ela não ficaria longe de mim, qanto mais perto de Agatha, melhor pra mim. É obvio que eu preciso da minha avó, mas ela não precisa ver como minha mãe está. Ela não precisa sofrer. É natal.
 -Tudo bem, eu entendo –ela estava chorando –você já está grandinha né?! Eu te amo.
 -Eu também. Eu te amo muito vó.
  Agora só Deus sabe o que está acontecendo lá.
  Pego uma das garrafas que Agatha havia me dado, um maço de cigarros e vou para o quarto da minha mãe. Fecho a porta e escancaro a janela. Coloco os fones no ouvido, e fico deitada no chão, fumando e bebendo ao som de BonJovi.
  Posso ouvir alguém me chamando desesperadamente lá embaixo, ignoro o som. Até que Luke aparece na janela do quarto e eu o encaro.
 -Como sabia que eu estaria no quarto da minha mãe? –eu disse.
 -Na verdade, eu não sabia. Essa era a janela mais fácil de subir. –ele sorriu, até olhar para as garrafas. –Você ta bebendo e nem me chamou?
 -Na verdade, queria beber tudo sozinha.
 -Afogar suas mágoas?
 -Talvez até me afogar...
 -Margo, você não fazia nada dessas coisas quando chegou aqui. Quando eu te conheci, você me olhava diferente, você até me perguntou se fumar fazia você passar mal. E agora você tá com um maço de cigarros e garrafas de bebida junto de você. O que aconteceu?
 -Você lembra de quando nos conhecemos? –fugi da pergunta porque quis.
 -Você acha que eu me esqueceria? A menina nova e tímida que chegou na escola e ficou andando de um lado pro outro pra decorar os caminhos das salas de aula, e... me pediu desculpas por não fumar. –ele riu.
 -EI! –ri junto dele. –Não é justo, eu te achei um gato e fiquei com muita vergonha quando você veio falar comigo. Você foi um colírio para os meus... –parei de falar quando percebi o que havia falado. Ele estava me olhando fundo nos olhos.
  Ele balançou a cabeça como siando de um devaneio e disse:
 -Um colírio para os seus olhos? Olha, não posso negar, eu também te achei bem bonitinha.
 -Bonitinha? Só isso?
 -Ah, eu sou homem, não posso sair dizendo pra todas as garotas gatas que eu as acho muito gatas. Então, só bonitinha.

   Eu queria muito beijá-lo.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Can You Be Mine. (Twelfth)

12º  Capitulo


Sentada a mesa, perdida em pensamento que não percebi quando Agatha entrou.
  Senta-se em minha frente, inclinando-se em minha direção. Abro a boca para perguntar o que ela esta fazendo, mas minhas palavras se perdem no momento em que seus lábios se juntam aos meus.
  Eu sei. Eu sei. Eu tenho que expulsa-la e dizer pra sumir da minha vida e que isso é uma falta de respeito, mas eu não faço. Eu não quero. Ao invés disso inclino-me de modo que ficamos ainda mais próximas, a mão que antes segurava um cigarro, que chegava no fim, agora envolve seu pescoço. 
  Estou quebrando regras porque é pra isso que elas servem. Garotas não devem beijar outras garotas, mas mães e pais não devem abandonar suas filhas. Todos quebram regras.


Posso ouvir bem no fundo da minha mente uma vozinha dizendo que eu devo parar. Mas forço-me a continuar até que  ela mesma pare.
  E não demora a acontecer. Ela se afasta. E me recosto em minha cadeira e ela na dela. Nos encaramos por alguns míseros segundos, mas pareceram longas horas.y
 -Não vai surtar ou me mandar embora? -ela disse cruzando os braços.
 -O que? Só por ter me beijado?
 -Você também me beijou. Mas sim é por isso.
 -Quem é que não quer beijar Agatha Fieldman?
 -Talvez você não quisesse.
 -É talvez eu não quisesse. Mas eu quis. Onde você tava?
 -Estava com Ian.
  Com Ian? Então eu fico desacordada algumas horas e eles viram melhores amigos para sempre? Ergo a sobrancelha e digo
 -Ah! Já sei! Não gostou do beijo dele e resolveu ver se Margo Fields beija melhor?!
  Nós rimos.
 -Na verdade vim atras de Luke. Mas só encontrei você. Serviu.
 -Ah! Considerações finais, Srta Fieldman?
 -Você pode melhorar.
 -Experimente beijar outras garotas. Meu beijo será o melhor.
 -Quem sabe.
 -É. Mas, não quero falar com você agora, Agatha. Nem hoje. Amanhã, quem sabe...?
 -Você... Ah não! -ela ri debochando da minha cara.- Vou perguntar. Porque Margo?
  Jogo a cabeça pra tras forçando uma gargalhada.
 -Já dizia Jake Bugg "Eu bebo para lembrar. Eu fumo para esquecer". Tem fumado bastante né? Já esqueceu o que escondeu de mim?
  -Quem diria. Margo Fields. A garota canadense que sempre entende as outras pessoas... VOCÊ EM ALGUM MOMENTO SE COLOCOU EM MEU LUGAR?- ela esta de pé gritando comigo.- TOMA -ela coloca uma sacola com bebidas na mesa- BEBA PARA LEMBRAR, QUE ANOS ATRAS QUEM PERDEU OS PAIS FUI EU. BEBA PARA LEMBRAR QUE EU NUNCA FALEI SOBRE ISSO. BEBA PARA LEMBRAR QUE NÃO IMPORTAM AS CONSEQUÊNCIAS EU FARIA E FAREI TUDO PRA TE PROTEGER DE QUALQUER COISA QUE VA TE FAZER MAL. BEBA PARA LEMBRAR, e por favor Margo, lembre-se de que sou sua melhor amiga. Você perdeu seu pai. Ta perdendo sua mãe. E eu? Você também quer me perder, Margie?
  Fechos os olhos e respiro fundo.
  Ela estava certa. Agatha sempre está certa. Eu nunca a vi chorando pela morte dos pais desde o enterro deles. Ela é minha melhor amiga. E ela sempre me protegeu. É a unica pessoa que me sobrou. A unica em que posso confiar.
  Abro os olhos e encontro os dela.
 -Você não vai dizer a ninguém que eu disse que não queria falar com você hoje?
  Ela sorriu.
 -Não. Eu não vou.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Can You Be Mine. (Eleventh)

11º  Capitulo

Margo's POV (again)

  Foi a pior sensação do mundo ver Agatha daquele jeito. Ela estava em prantos, mas o que eu podia fazer? Ela escondeu de mim, e por mais que agora eu precisasse do abraco dela, eu me nego a receber seu abraço, agora não há nada no mundo que me faça aceita-la novamente. Talvez amanhã ou depois. Mas agora não.
  Posso ouvir Luke gritando, e penso o que pode estar acontecendo lá fora. Olho pra minha mãe como se pedindo permissão para sair e imagino ela me dizendo "Tudo bem filha. Pode ir lá." Sussurro pra ela: "Não saia daqui, eu ja volto" e as lagrimas voltam ao meu rosto quando lembro que ela não pode sequer ouvir minhas palavras. Dou um beijo e sua testa e saio para encontrar Luke com o dedo na cara de uma enfermeira
 -VOCÊ NÃO PODE DIZER O QUE EU DEVO OU NÃO FAZER. Mas por favor. Eu preciso ver ela. -agora seus braços estavam nos ombros da enfermeira e seu olhar era de suplica.- Por favor!
 -Meu jovem, eu não posso fazer nada. Ela não quer sair de perto da mãe e não quer... -Os olhos de Luke encontram os meus e isso me levou de volta a primeira vez que o vi, aquele dia ele estava com olhos maliciosos e curiosos. Hoje seus olhos de lobo estampam dor. E eu não entendo porque. Quem ta sofrendo com a mãe no hospital sou eu.
  Ele vem até onde estou e me aconchego em seus braços. Até lembrar que ele não tem direito de me abraçar e sofrer comigo.
 -PARA. PARA. -soltei-me do abraço depressa- Não quero seu consolo. Não quero. Eu  disse. Eu quero saber o seu nome.
 -Margo! Por favor. Olha pra mim. Isso não é motivo pra você se irritar agora. 
 -Tudo é motivo pra me irritar Luke!  Você não percebe? Olha o estado da minha mãe! Minha melhor amiga me escondeu isso Luke! Você ainda acha que eu não posso me irritar  com o que eu quiser?
 -Margo... -olhei pra porta e esqueci que Luke estava comigo, esqueci que ele acabara de me chamar e só vi Agatha se encaminhando em minha direção. Mas só vi isso mesmo. Depois não sei de mais nada. Só senti alguém se esforçando pra me levar para algum lugar e perdi totalmente os sentidos. 
  Não sei por quanto tempo fiquei desacordada, e pouco me interessa. Sei só que eu queria continuar dormindo porque encontrei minha mãe saudável, sorridente e vaidosa como sempre. Tão linda abraçada ao meu pai. Meu pai alto e charmoso... Mas eu acordei.  Acordei e encontrei minha mãe na sua cama, pálida, sem nenhum sinal da mulher que eu havia sonhado. Sem meu pai. E doeu. Doeu muito porque eu sabia, que a chance de passar o primeiro natal sem meus pais eram bem grandes.   
  Me encostei na janela imersa em pensamentos. O sol estava brilhando forte, então olhei para o relógio na parede onde marcava 15h45.
  Eu queria ficar ali com minha mãe o tempo todo, mas só me restavam 15 minutos. Eles não me deixariam ficar ali por mais tempo. Fui me despedir dela.
 -Mamãe, eu tenho que ir embora agora. Eu não quero ir. Quero ficar com você, mas eu não posso. Não vão me deixar ficar aqui. E eu tenho que fazer lição e arrumar a casa e fazer comida, porque logo você vai voltar pra casa. –uma lágrima rolou de meu rosto e pingou no lençol deixando uma mancha molhada onde pingara- Eu sei que você vai voltar logo. Eu te amo! Até amanhã.

  Voltei pra casa com um maço de cigarros e muitos litros de lágrimas pra por pra fora.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Can You Be Mine. (Tenth)

10º  Capitulo

  Sei que Luke não estava errado. Sei que ele tinha toda razão. Mas não me daria ao luxo de dizer isso a ele. 
  Já era grande demais o fardo da culpa que estou carregando comigo pra dar esse prazer a ele.
  Fui andando sem direção, literalmente, porque não faço ideia de como andar aqui sem Margo.
  Cheguei a um ponto calmo, uma relíquia deste lugar. Sentei-me a beira do lago e peguei o cigarro que ganhei de Margo ontem. Procuro em minha bolsa um isqueiro e acendo o outro. Coloco em minha boca e pela primeira vez entendo o que Margo quis dizer com "o cigarro é meu novo esconderijo".

  É uma sensação divina sentir a nicotina enchendo meu sistema respiratório, porque é impossível fazer com que ela volte, e seu ultimo vestígio se torna a fumaça que sopro para o céu. Permaneço ali. Até meu cigarro chegar ao fim.
  Levanto-me e volto me equilibrando na beira das calçadas até chegar em casa. E é onde tudo começa outra vez.
  Encontro Margo e Luke sentados na mesa, e quando abro a porta ambos me fuzilam com seus olhares. Viro e saio novamente.
  Depois de comprar cigarros em uma loja de conveniência que tem ao fim da rua, volto para a relíquia e encontro Ian lá...

 -O que você ta fazendo aqui? -perguntei incrédula
 -O que estou fazendo aqui? Eu sempre venho aqui.
  Me sentei ao lado dele.
 -Achei que ninguém conhecia esse lugar...
 -Bem, eu conheço. E você conhece. Pode ser nosso lugar o que acha?
  Acendi um cigarro do meu novo maço de cigarros, e ofereci a ele, que pegou sem pensar duas vezes.
 -Não acho que deveria ser nosso lugar- disse colocando o cigarro na boca.
 -E porque não?
 -Não sei. -Mentira. Eu sabia sim. Não temos motivos pra ter um lugar; Margo não ia gostar; e "ser nosso lugar" soa muito romântico. Não sou de romancezinhos.- Por enquanto não.
  Ele riu
 -Eu não me importo em ter que te beijar se for pra ter um lugar nosso.
  Acompanho-o em seu riso contagiante
 -Então você lê pensamentos...
 -Ah! Você quer mesmo que eu te beije. Não precisava de toda essa enrolação, era só ter dito...
 -Ah -disse enquanto soltava a fumaça- e você acha mesmo que eu sendo eu vou beijar uma boca cheia de saliva de loiras corpudas e metidas?
 -Ora, porque não? Eu escovo os dentes.
 -Então admite que é um pegador?
 -Só quando pegar você e ou a Margo.
  Ergui as sobrancelhas, o olhei fixamente, e disse no tom mais seco que consegui
 -E o respeito? Onde é que fica? Engraçado você hem?! Até parece que a Margo vai te dar bola.
 -Porque acha que não? 
 -Você é muito confiante.
  Olhei pra cima, e pela primeira vez, notei que na relíquia, não se  mais que vestígios do azul empalidecido do céu. O verde das arvores e borrões de pássaros voando tomam conta visão. E me perdi em pensamentos... Imagino que Ian também, pois não disse uma unica palavra enquanto meus pensamentos fluíam..
  "Margo jamais vai dar bola pra você quando eu contar a ela sobre essa conversa. Se eu conseguir contar. Se ela quiser me ouvir. Mas ela tem me ouvir. Eu tenho que pedir desculpas. Eu..." -Agatha! Ouvi meu nome e despertei do desvaneio.
 -Ian! -gritei de volta pra ser chata.   
Relíquia

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Can You Be Mine. (Ninth)

9º  Capitulo

  Agatha’s POV.
  Vi a tia Vilma (mãe da Margo) deitada naquela cama de hospital e minha amiga debruçada sobre ela chorando. Naquele momento eu queria sumir, me senti tão culpada. Eu sempre soube o que ela tinha, e aceitei vir para cuidar de Margi, mas tanto eu como a tia Vilma sempre soubemos que Margo sabe se cuidar sozinha, e eu poderia não ter aceitado. Mas como recusar o pedido de uma mulher que durante anto tempo te tratou como filha e hoje está quase morrendo? Eu não soube fazer isso. E eu jamais faria isso. Mas agora, vendo as consequências.. Margo levanta a cabeça e me olha. Olhos tristes e enfurecidos. Ela está me culpando. Eu sei. E ela jamais vai me perdoar.
  “Sinto muito, me desculpe.”  Sussurro para ela, com lágrimas inundando meu rosto, e espero que ela entenda. Me viro e vou embora.
  Na porta do hospital encontro Ian e Luke, um longe do outro, mas ambos me olham com esperanças nos olhos. Não corro para abraçar nenhum dos dois, imagino que esse seria o trabalho da Margi. Mesmo assim, vou até eles e lhes digo o que está acontecendo lá dentro. Não sei o que esperava como reação deles, mas Luke foi o primeiro a correr para dentro do hospital gritando que “A MARGO! EU PRECISO VER ELA! EU PRECISO! ONDE ELA ESTÁ?!”  enquanto várias enfermeiras tentam acalma-lo.
  Ian, aparentemente mais discreto, chega perto de mim.
 -E então? Como ela está?
 -Como você imagina que ela esteja? Ela nem sabe se a mãe vai acordar.
 -E você?
  Isso me pegou de surpresa, principalmente porque o foco de tudo isso era Margo e sua mãe.
 -Eu menti pra minha melhor amiga sobre o estado de saúde da mãe dela. Estou ótima- disse já chorando outra vez.
  Ian me envolve com seus braços largos, e eu deixo com que ele me encaminhe a um mundo desconhecido. Pela primeira vez, desde que perdi meus pais, me sinto segura outra vez.
  “Não me solte”
  Nos braços de Ian, eu me senti livre para chorar desesperadamente. Evitei falar sobre meus pais por tanto tempo, e agora, eu estou aqui. Vendo minha melhor amiga perdendo seus pais também. E eu nem sei como lidar com isso.
  Em meio à soluços, e lágrimas, pude ouvir a voz de Margo gritando, e me soltei bruscamente de Ian. Não sei se por medo dela me ver abraçada á ele ou se era mais pra ver o motivo de seus gritos.
  Corri, para encontra-la chorando como nunca vi antes, e apontando o dedo na cara de Luke. Ele por sua vez, chorava também, mas claro, que ele estava tentando acalma-la. Ato em vão. Margo não se acalma.
  Ela desviou o olhar e encontrou o meu. E então, desmaiou nos braços de Luke.
  Me apressei à eles, mas antes que eu chegasse duas enfermeiras já estavam levando-a. Tentei acompanha-las, mas não me deixaram.
  Me virei para Luke:
 -O que ela estava gritando com você? O que aconteceu? ME FALA!
  Ele me olhou com espanto, e provavelmente, porque à ele nunca dirigi uma palavra sequer.
 -Ela estava me dizendo que nunca mais veria a mãe dela acordada outra e vez e a culpa É SUA! VOCÊ SABE O QUE ACABOU DE FAZER COM MINHA MARGO!?
 -SUA MARGO? QUE DIREITO VOCÊ TEM DE CHAMA-LA DE SUA? NEM SEU NOME ELA SABE! E VOCÊ NÃO TEM QUE VIR ME CULPAR! SE ELA TIVER QUE FAZER ISSO ELA QUE FAÇA SOZINHA! EU SEI O QUE EU FIZ, E NÃO PRECISO DE VOCÊ ME DIZENDO NADA.
 -Ah! Então você ficou bravinha? Isso porque a culpa é sua mesmo. Não é?! Você sempre soube, estou certo? Mas preferiu ficar quieta. Guardando isso pra você. Agora, ta aí as consequências. SUA AMIGA ESTÁ DESMAIADA! DE RAIVA. RAIVA DE VOCÊ...
 -PARA DE FALAR O QUE EU JÁ SEI!! ISSO É MUITO CLICHÊ, MAS VOCÊ NÃO SABE O QUE EU PASSEI. E NÃO SABE PORQUE EU ESTOU AQUI. SABE?! NÃO. NÃO SABE.
 -Com licença, senhores. Estamos em um hospital. E vocês não podem gritar aqui dentro.
  Olhamos para a enfermeira baixinha e robusta, de rosto cauteloso e voz suave. E no seu crachá “Silvya”.

  Me virei, e saí de lá pisando forte.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Eighth)

8º  Capitulo

  Foi um dia bem legal na verdade, tive com quem tagarelar na aula de artes, alguém pra me ajudar na aula de matemática, alguém pra me acordar na aula de filosofia. E alguém pra me acompanhar no intervalo.
  Estávamos chegando à beira da cantina quando ouço Ian me chamar, viro pra trás instantaneamente, encontrando seus olhos. Ele sorri pra mim. Aquele sorriso que abala as estruturas –já nada firmes- de qualquer garota. Retribuo o sorriso, e temo por não ter o mesmo efeito. Mas que me importa, sabendo que ele “pega geral” e estou fora dessa lista.
 -Oi Margo.
 -Oi Ian.
 -Quem é sua amiga? –Ele apontou com a cabeça e acenou para ela, me virei para olha-la e a vi retribuindo o aceno com um sorriso no rosto. Aggs é o tipo de garota que está na lista de qualquer garoto, e é a primeira na lista de garotas que recorreriam ao mundo homossexual para se divertir. Inclusive na minha. Mas mesmo assim, me da uma pontinha de ciúmes saber que Ian já está de olho nela.
 -Ela é Agatha –forço-me a responder.
 -De onde ela é?
 -Porque não pergunta à ela? –Era pra soar ignorante, mas imagino que tenha saído um tanto encorajador, o que o fez sorrir pra mim e ir em direção a ela.
  “Sozinha outra vez.”
  Me afastei deles e fui me sentar em uma mesa do lado de fora do refeitório.
  Estava comendo minha maça quando sinto o celular vibrar insistentemente, então o pego, e vejo na tela “HOSPITAL”.
  Atendo. Confusa. “O que é agora?”
 -Margo Fields?
 -Sim?
 -Sou a Dra. Trissa, da diretoria do Hospital da cidade, e estou ligando para informar que sua mãe...
 -MINHA MÃE? O QUE ACONTECEU? –Interrompi a Dra. sem travas na língua.
 -Por favor, não se exalte..
 -NÃO ME EXALTAR? MINHA MÃE ESTÁ COM VOCÊS SABE-SE LÁ DEUS COMO E PORQUE E VOCÊ TA ME PEDINDO PRA NÃO ME EXALTAR? –eu estava ciente dos olhares em meu rosto, mas pouco me importava agora, eu só queria saber da minha mãe.
 -Por favor. Deixe-me explicar.
 -NÃO! EU QUERO VER MINHA MÃE. EU VOU AÍ AGORA! –o choro já se formava em minha garganta.

  Desliguei o celular e saí correndo, empurrando quem quer que estivesse em minha frente. Por um momento Agatha passou por meus pensamentos, mas foi muito rápido, “ela está com Ian”.

Corri como quem corre para ganhar uma maratona, e quando cheguei ao hospital estava completamente sem folego. Creio que já tinha alguém me esperando, pois fui levada imediatamente para sala onde minha mãe se encontra. Acho que desmaiei. Despertei numa poltrona até confortável, de frente para uma moça bonita morena e cabelos escuros, me encarando, certamente cogitando a possibilidade de uma cama ao lado da minha mãe para mim.
 -Como está se sentindo?
 -Nada bem. –Não havia necessidade de mentir para uma médica.
 -Posso ver.
 -Então porque perguntou? –Silêncio- Como ela está? –Me aproximei da minha mãe, e pude perceber com clareza como ela parecia velha agora. Seu rosto sempre tão cheio de vida dava lugar a rugas, e fortes linhas de expressão. Olheiras escuras embaixo de seus olhos e me pergunto como ela conseguia cobrir tudo isso? Ela sempre foi tão vaidosa. Sinto lágrimas correndo pelo meu rosto, e me irrito comigo mesma por não estar com ela nesse momento, por não ter reparado como a situação havia se agravado. Me irrito por não estar mais conseguindo ser forte e estar chorando aqui, diante dela, mesmo que ela esteja inconsciente.
  Me abaixei e dei um beijo em sua testa.
 -Ela vai acordar, não vai?
 -É o que esperamos. Normalmente, em níveis extremos de depressão como esse, os doentes..
 -Ela não é uma doente.
 -Certo. Me desculpe. Os pacientes quando recuperam sua consciência preferem se manter assim, para que possam ficar em seu mundinho.
 -Mas não vou conseguir ficar sem ela. Você tem que fazer alguma coisa! Por favor!
  A Dra. Trissa me olhava com pena, era nítido. E eu estava sendo injusta com ela. Ela já fez alguma coisa. Ela já trouxe minha mãe pra cá, já deu a ela os atendimentos necessários e me ligou. Me ligou pois sabia que eu era necessária aqui. Me ligou, pois sabia que caso minha mãe acordasse, meus olhos seriam os primeiros que ela gostaria de encontrar.

  Após alguns instantes que a Dra. sai da sala, olho para janela e vejo Agatha lá. Não sei quanto tempo ela estava lá, pois desde que Trissa saiu, eu só chorei e chorei de cabeça baixa. Suponho que faça bastante tempo, pois ela está com os olhos inchados, como quem acabou de chorar.

  Ela sussurra um “Sinto muito, me desculpe”.  Ela sabia. É claro, minha mãe a chamou para cuidar de mim.

domingo, 23 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Seventh)

7º  Capitulo

Esperei três toques para poder atender. Me livrar do choque.
  Atendi.
 -Alô? –Não pude conter o pânico em minha voz.
 -Oi filha! Estou aqui no mercado, mas esqueci de fazer uma lista de compras.
 -MÃE! -O alívio foi imediato- VOCÊ QUER TER UMA FILHA MORTA?! PELO AMOR DE DEUS! NUNCA MAIS SAIA DE CASA SEM ME DEIXAR UM RECADO! EU NÃO POSSO COM ISSO!
 -Margo! Calma. Estou bem. Não se preocupe! Lembra quando você mesma me disse que eu precisava sair...
 -Sim! Claro que lembro! Mas imaginei que fosse me avisar como outras mães fazem, tipo: “Filha to indo no mercado, quer alguma coisa?”
 -Me desculpa meu amor. Da próxima vez pergunto se você quer alguma coisa antes de sair. –pude ouvir o tom zombeteiro em sua voz e sorri ao perceber que minha mãe estava de fato voltando a ser o que era.
 -Ok. Vou fazer uma lista e te encontro em alguns minutos.
 -Obrigada. Te amo.
 -Eu também.

  Desliguei o telefone e me joguei no sofá, respirando fundo “inspira, expira.”

  Evitei ficar jogada no sofá por mais tempo para que eu não adormecesse e o pânico de ter uma filha morta tomasse conta da minha mãe. Levantei e fui até a cozinha examinando armário e geladeira, e anotei tudo o que estava em falta. E acrescentando minhas necessidades: bolachas recheadas, salgadinhos, chocolates, balas e outras besteiras.
  O que realmente acontece quando saio de casa é justamente o contrário do que eu imaginaria acontecer: encontro Agatha na minha porta pronta pra bater quando a abro.
  Foi só gritos e pulos e abraços e AI MEU DEUS! EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ AQUI!!!
  É claro, me esqueci completamente da lista da minha mãe, mas pensando bem, minha mãe já sabia, ao contrário ela não teria saído de casa e não teria me feito sair de casa.
  Entramos em casa e fomos direto a meu quarto, errei a porta, talvez pela emoção. Com certeza pela emoção. Quando entrei no quarto certo ajeitamos as coisas dela e começamos a conversar e em determinado ponto:
 -Ai Margi -ela sempre me chamou de Margi, Margo era usado quando ela estava brava.- Não te falei ainda!
 -O que você ainda não me disse? -rimos pois ela já havia me dito muita coisa.
 -Eu não vim pra passar essa semana.
  Ela não vai dizer o que acho que ela vai dizer, vai?
 -Você não vai dizer o que eu acho que vai dizer, VAI!?
 -Se você estiver achando que vim para ficar, bem, Margi, você está completamente CERTA!
  Uma onda de gritos histéricos atravessou as paredes do quarto e fez com que minha vizinha, a velha senhora Mony, viesse até nós para verificar se estava tudo certo. 
  Expliquei à ela que não havia nada com o que se preocupar, pois apenas estávamos comemorando. Ela voltou para casa murmurando algo que não nos permitimos ouvir vindo da boca de uma senhora que, a olhos nus, parece tão inocente.
  O dia passou tão rápido quanto uma chuva de verão.
  Minha mãe, depois que chegou, com minhas besteiras que ela com certeza sabia que eu adicionaria na sua lista, aprontou o jantar. Finalmente algo especial, mas claro que não precisávamos dizer sobre isso para Aggs (esse é o apelido dela), ela já sabia. 

  Depois de jantarmos, fomos ajeitar nossa camas, finalmente eu teria uma noite divertida!
  No outro dia, acordamos atrasadas para o primeiro dia de aula dela na minha escola. Grande começo. E deixamos nossas camas como estão ao sairmos de casa.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Can You Be Mine (Sixth)

6º  Capitulo

 Sei que não foi nada adulto o que fiz, foi sim só pra provocar Luke, mas não faço ideia do por quê. E pra falar a verdade, nem sei o motivo pra eu estar aqui encostada na parede fumando com Ian.  Talvez, isso fosse o que eu queria desde que cheguei aqui, me livrar dessa faminha de pura.
  Não foi nada ruim. Eu até gostei. Gostei da companhia de Ian, gostei do cigarro que ele me deu, gostei desse momento que ficamos juntos. Gostei tanto quanto gostei dos segundos que fiquei com Luke. A coisa toda me pareceu bem surreal.
  Sopramos a fumaça de nossos respectivos cigarros um na cara do outro de modo que nossos ares se misturassem. Eu ri da situação.
  Coloquei o cigarro entre meus dedos, dei um beijo na bochecha de Ian e me virei.
  Fiquei em frente ao refeitório, de frente para o par de olhos castanhos. Mas não evitando-os, dessa vez, encarando-os.
  Ele fumava de lá e eu daqui. Mas nenhum se moveu. Apenas nos encaramos por tempo suficiente pra jogarmos nossos cigarros fora, e voltarmos à nossas salas. Sem trocar uma palavra, sem nenhuma nova aproximação.
  Até a hora de ir embora.
....

 -Então, agora você fuma. –Reconheci sua voz, sorri e me virei.
 -É, agora eu fumo.
 -Você gosta de Ian.
 -Pelo menos eu sei o nome dele.
 -O que o nome tem a ver com isso?
 -Você sabe meu nome, eu não sei seu nome.
 -Continuo sem entender.
 -Também gosto de você.
  Acho que ele não esperava por essas palavras.
 -Você não aceitou meu cigarro.
 -Você não me ofereceu nenhum.
  Agora estávamos parados, ele na minha frente, me olhando nos olhos. Seu olhos nem eram tão escuros de perto. Seu cheiro tão magnifico tão próximo a mim. Ele estava se inclinando.
 -Vamos embora.
  Ele riu e voltamos a andar. De forma, que jamais imaginei que aconteceria.
  Foi uma caminhada silenciosa, se não fosse pelo momento, teria me esquecido que ele estava ao meu lado. As vezes eu sorria, as vezes ele brincava com meu cabelo. Mas nenhuma palavra foi trocada novamente.

  Ele estava me levando em casa? Eu não precisava de garotos pra me levar em casa, então:
 -Tchau, Luke.
 -Você mora aqui?
 -Não, mas gosto daqui.
  Ele sorriu.
-Então agora estamos quites.
 -Sim.
  Ele voltou e segui pela estrada novamente, fiquei observando-o até que sumisse da minha vista, e voltei para meu caminho.
  Foi difícil não contar para Agatha sobre, Ian e Luke hoje. Principalmente, porque temos conversado bastante ultimamente, mas nunca o suficiente. Temos trocado mensagens, nos falado pelo Facebook, mas não é a mesma coisa. E eu já havia ligado pra ela essa semana.
  Depois que cheguei e almocei, me dei conta de que minha mãe não estava em casa. É claro que fiquei preocupada. Tentei ligar pra ela mas não consegui, fui no quarto, no banheiro, em todos os lugares procurando pelo pior. Nada.

  Todo aquele dia que perdi meu pai me voltou à cabeça quando o telefone tocou.