segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Eighth)

8º  Capitulo

  Foi um dia bem legal na verdade, tive com quem tagarelar na aula de artes, alguém pra me ajudar na aula de matemática, alguém pra me acordar na aula de filosofia. E alguém pra me acompanhar no intervalo.
  Estávamos chegando à beira da cantina quando ouço Ian me chamar, viro pra trás instantaneamente, encontrando seus olhos. Ele sorri pra mim. Aquele sorriso que abala as estruturas –já nada firmes- de qualquer garota. Retribuo o sorriso, e temo por não ter o mesmo efeito. Mas que me importa, sabendo que ele “pega geral” e estou fora dessa lista.
 -Oi Margo.
 -Oi Ian.
 -Quem é sua amiga? –Ele apontou com a cabeça e acenou para ela, me virei para olha-la e a vi retribuindo o aceno com um sorriso no rosto. Aggs é o tipo de garota que está na lista de qualquer garoto, e é a primeira na lista de garotas que recorreriam ao mundo homossexual para se divertir. Inclusive na minha. Mas mesmo assim, me da uma pontinha de ciúmes saber que Ian já está de olho nela.
 -Ela é Agatha –forço-me a responder.
 -De onde ela é?
 -Porque não pergunta à ela? –Era pra soar ignorante, mas imagino que tenha saído um tanto encorajador, o que o fez sorrir pra mim e ir em direção a ela.
  “Sozinha outra vez.”
  Me afastei deles e fui me sentar em uma mesa do lado de fora do refeitório.
  Estava comendo minha maça quando sinto o celular vibrar insistentemente, então o pego, e vejo na tela “HOSPITAL”.
  Atendo. Confusa. “O que é agora?”
 -Margo Fields?
 -Sim?
 -Sou a Dra. Trissa, da diretoria do Hospital da cidade, e estou ligando para informar que sua mãe...
 -MINHA MÃE? O QUE ACONTECEU? –Interrompi a Dra. sem travas na língua.
 -Por favor, não se exalte..
 -NÃO ME EXALTAR? MINHA MÃE ESTÁ COM VOCÊS SABE-SE LÁ DEUS COMO E PORQUE E VOCÊ TA ME PEDINDO PRA NÃO ME EXALTAR? –eu estava ciente dos olhares em meu rosto, mas pouco me importava agora, eu só queria saber da minha mãe.
 -Por favor. Deixe-me explicar.
 -NÃO! EU QUERO VER MINHA MÃE. EU VOU AÍ AGORA! –o choro já se formava em minha garganta.

  Desliguei o celular e saí correndo, empurrando quem quer que estivesse em minha frente. Por um momento Agatha passou por meus pensamentos, mas foi muito rápido, “ela está com Ian”.

Corri como quem corre para ganhar uma maratona, e quando cheguei ao hospital estava completamente sem folego. Creio que já tinha alguém me esperando, pois fui levada imediatamente para sala onde minha mãe se encontra. Acho que desmaiei. Despertei numa poltrona até confortável, de frente para uma moça bonita morena e cabelos escuros, me encarando, certamente cogitando a possibilidade de uma cama ao lado da minha mãe para mim.
 -Como está se sentindo?
 -Nada bem. –Não havia necessidade de mentir para uma médica.
 -Posso ver.
 -Então porque perguntou? –Silêncio- Como ela está? –Me aproximei da minha mãe, e pude perceber com clareza como ela parecia velha agora. Seu rosto sempre tão cheio de vida dava lugar a rugas, e fortes linhas de expressão. Olheiras escuras embaixo de seus olhos e me pergunto como ela conseguia cobrir tudo isso? Ela sempre foi tão vaidosa. Sinto lágrimas correndo pelo meu rosto, e me irrito comigo mesma por não estar com ela nesse momento, por não ter reparado como a situação havia se agravado. Me irrito por não estar mais conseguindo ser forte e estar chorando aqui, diante dela, mesmo que ela esteja inconsciente.
  Me abaixei e dei um beijo em sua testa.
 -Ela vai acordar, não vai?
 -É o que esperamos. Normalmente, em níveis extremos de depressão como esse, os doentes..
 -Ela não é uma doente.
 -Certo. Me desculpe. Os pacientes quando recuperam sua consciência preferem se manter assim, para que possam ficar em seu mundinho.
 -Mas não vou conseguir ficar sem ela. Você tem que fazer alguma coisa! Por favor!
  A Dra. Trissa me olhava com pena, era nítido. E eu estava sendo injusta com ela. Ela já fez alguma coisa. Ela já trouxe minha mãe pra cá, já deu a ela os atendimentos necessários e me ligou. Me ligou pois sabia que eu era necessária aqui. Me ligou, pois sabia que caso minha mãe acordasse, meus olhos seriam os primeiros que ela gostaria de encontrar.

  Após alguns instantes que a Dra. sai da sala, olho para janela e vejo Agatha lá. Não sei quanto tempo ela estava lá, pois desde que Trissa saiu, eu só chorei e chorei de cabeça baixa. Suponho que faça bastante tempo, pois ela está com os olhos inchados, como quem acabou de chorar.

  Ela sussurra um “Sinto muito, me desculpe”.  Ela sabia. É claro, minha mãe a chamou para cuidar de mim.

domingo, 23 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Seventh)

7º  Capitulo

Esperei três toques para poder atender. Me livrar do choque.
  Atendi.
 -Alô? –Não pude conter o pânico em minha voz.
 -Oi filha! Estou aqui no mercado, mas esqueci de fazer uma lista de compras.
 -MÃE! -O alívio foi imediato- VOCÊ QUER TER UMA FILHA MORTA?! PELO AMOR DE DEUS! NUNCA MAIS SAIA DE CASA SEM ME DEIXAR UM RECADO! EU NÃO POSSO COM ISSO!
 -Margo! Calma. Estou bem. Não se preocupe! Lembra quando você mesma me disse que eu precisava sair...
 -Sim! Claro que lembro! Mas imaginei que fosse me avisar como outras mães fazem, tipo: “Filha to indo no mercado, quer alguma coisa?”
 -Me desculpa meu amor. Da próxima vez pergunto se você quer alguma coisa antes de sair. –pude ouvir o tom zombeteiro em sua voz e sorri ao perceber que minha mãe estava de fato voltando a ser o que era.
 -Ok. Vou fazer uma lista e te encontro em alguns minutos.
 -Obrigada. Te amo.
 -Eu também.

  Desliguei o telefone e me joguei no sofá, respirando fundo “inspira, expira.”

  Evitei ficar jogada no sofá por mais tempo para que eu não adormecesse e o pânico de ter uma filha morta tomasse conta da minha mãe. Levantei e fui até a cozinha examinando armário e geladeira, e anotei tudo o que estava em falta. E acrescentando minhas necessidades: bolachas recheadas, salgadinhos, chocolates, balas e outras besteiras.
  O que realmente acontece quando saio de casa é justamente o contrário do que eu imaginaria acontecer: encontro Agatha na minha porta pronta pra bater quando a abro.
  Foi só gritos e pulos e abraços e AI MEU DEUS! EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ AQUI!!!
  É claro, me esqueci completamente da lista da minha mãe, mas pensando bem, minha mãe já sabia, ao contrário ela não teria saído de casa e não teria me feito sair de casa.
  Entramos em casa e fomos direto a meu quarto, errei a porta, talvez pela emoção. Com certeza pela emoção. Quando entrei no quarto certo ajeitamos as coisas dela e começamos a conversar e em determinado ponto:
 -Ai Margi -ela sempre me chamou de Margi, Margo era usado quando ela estava brava.- Não te falei ainda!
 -O que você ainda não me disse? -rimos pois ela já havia me dito muita coisa.
 -Eu não vim pra passar essa semana.
  Ela não vai dizer o que acho que ela vai dizer, vai?
 -Você não vai dizer o que eu acho que vai dizer, VAI!?
 -Se você estiver achando que vim para ficar, bem, Margi, você está completamente CERTA!
  Uma onda de gritos histéricos atravessou as paredes do quarto e fez com que minha vizinha, a velha senhora Mony, viesse até nós para verificar se estava tudo certo. 
  Expliquei à ela que não havia nada com o que se preocupar, pois apenas estávamos comemorando. Ela voltou para casa murmurando algo que não nos permitimos ouvir vindo da boca de uma senhora que, a olhos nus, parece tão inocente.
  O dia passou tão rápido quanto uma chuva de verão.
  Minha mãe, depois que chegou, com minhas besteiras que ela com certeza sabia que eu adicionaria na sua lista, aprontou o jantar. Finalmente algo especial, mas claro que não precisávamos dizer sobre isso para Aggs (esse é o apelido dela), ela já sabia. 

  Depois de jantarmos, fomos ajeitar nossa camas, finalmente eu teria uma noite divertida!
  No outro dia, acordamos atrasadas para o primeiro dia de aula dela na minha escola. Grande começo. E deixamos nossas camas como estão ao sairmos de casa.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Can You Be Mine (Sixth)

6º  Capitulo

 Sei que não foi nada adulto o que fiz, foi sim só pra provocar Luke, mas não faço ideia do por quê. E pra falar a verdade, nem sei o motivo pra eu estar aqui encostada na parede fumando com Ian.  Talvez, isso fosse o que eu queria desde que cheguei aqui, me livrar dessa faminha de pura.
  Não foi nada ruim. Eu até gostei. Gostei da companhia de Ian, gostei do cigarro que ele me deu, gostei desse momento que ficamos juntos. Gostei tanto quanto gostei dos segundos que fiquei com Luke. A coisa toda me pareceu bem surreal.
  Sopramos a fumaça de nossos respectivos cigarros um na cara do outro de modo que nossos ares se misturassem. Eu ri da situação.
  Coloquei o cigarro entre meus dedos, dei um beijo na bochecha de Ian e me virei.
  Fiquei em frente ao refeitório, de frente para o par de olhos castanhos. Mas não evitando-os, dessa vez, encarando-os.
  Ele fumava de lá e eu daqui. Mas nenhum se moveu. Apenas nos encaramos por tempo suficiente pra jogarmos nossos cigarros fora, e voltarmos à nossas salas. Sem trocar uma palavra, sem nenhuma nova aproximação.
  Até a hora de ir embora.
....

 -Então, agora você fuma. –Reconheci sua voz, sorri e me virei.
 -É, agora eu fumo.
 -Você gosta de Ian.
 -Pelo menos eu sei o nome dele.
 -O que o nome tem a ver com isso?
 -Você sabe meu nome, eu não sei seu nome.
 -Continuo sem entender.
 -Também gosto de você.
  Acho que ele não esperava por essas palavras.
 -Você não aceitou meu cigarro.
 -Você não me ofereceu nenhum.
  Agora estávamos parados, ele na minha frente, me olhando nos olhos. Seu olhos nem eram tão escuros de perto. Seu cheiro tão magnifico tão próximo a mim. Ele estava se inclinando.
 -Vamos embora.
  Ele riu e voltamos a andar. De forma, que jamais imaginei que aconteceria.
  Foi uma caminhada silenciosa, se não fosse pelo momento, teria me esquecido que ele estava ao meu lado. As vezes eu sorria, as vezes ele brincava com meu cabelo. Mas nenhuma palavra foi trocada novamente.

  Ele estava me levando em casa? Eu não precisava de garotos pra me levar em casa, então:
 -Tchau, Luke.
 -Você mora aqui?
 -Não, mas gosto daqui.
  Ele sorriu.
-Então agora estamos quites.
 -Sim.
  Ele voltou e segui pela estrada novamente, fiquei observando-o até que sumisse da minha vista, e voltei para meu caminho.
  Foi difícil não contar para Agatha sobre, Ian e Luke hoje. Principalmente, porque temos conversado bastante ultimamente, mas nunca o suficiente. Temos trocado mensagens, nos falado pelo Facebook, mas não é a mesma coisa. E eu já havia ligado pra ela essa semana.
  Depois que cheguei e almocei, me dei conta de que minha mãe não estava em casa. É claro que fiquei preocupada. Tentei ligar pra ela mas não consegui, fui no quarto, no banheiro, em todos os lugares procurando pelo pior. Nada.

  Todo aquele dia que perdi meu pai me voltou à cabeça quando o telefone tocou.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Fifth)

5º  Capitulo


  Agora estou em minha antiga casa.
  Da cozinha posso ouvir o ancora do jornal dando bom dia a seus telespectadores, e vejo os pés do meu pai no sofá.
  Sorrio ao ver que ele está outra vez atrasado para o trabalho.
  O telefone toca.
  Corro para atender. E quando atendo, o choque toma conta de mim.
  Do outro lado, muito caos. E posso ouvir o policial dizer que meu pai sofreu um acidente.
  Em pânico, largo o telefone e corro pra onde meu pai estava, e agora não o vejo mais sorrindo, despreocupado com a hora. Agora, ele está com o aspecto cinza, gélido. Ele está morto em nosso sofá.

  Levanto aos pulos novamente. Desde que chegamos aqui não tenho outro sonho senão esse. E essa cena fica em minha cabeça até que lembro de minha mãe e forço-me a esquecer essas cenas. “Tenho que ser forte. Ela precisa de mim”
  Olho no relogio, já marcando 19:55.
  Deitei novamente outra vez fitando o teto. Respirei fundo. Levantei.
  Fui ao banheiro para tomar banho e fiquei lá por um tempo pensando.
  Pensando em como será daqui pra frente. Sem meu pai. Sem a mãe ativa que eu estava acostumada, sem... Agatha!! Minha amiga! Como pude me esquecer?! Desde o momento que perdi meu pai, minha mente está em um turbilhão de emoções!
  Terminei logo o banho. Me enrolei na toalha e corri até onde meu novo telefone se encontra em meu novo quarto.
  Nem troco de roupa. Pego o telefone e disco o numero de Agatha.
  Espero...
 -Alô? -finalmente minha mente se limpa. Pude finalmente ouvir a voz da minha amiga.
 -Agatha?
 -Margo? -pude ouvir o espanto em sua voz.
  Conversamos por um longo tempo. Choramos, rimos, conversamos... Foi tão maravilhoso. Contei à ela sobre meu primeiro dia na escola, contei sobre Luke..
  Foi tão... normal.
  Quando desliguei o telefone vi minha mãe na porta do quarto sorrindo pra mim.
 -Oi, mãe.
 -Oi, filha.
Era a Agatha?
-Sim. -não contive o sorriso.
-Achei que não iria mais ligar pra ela.
-Na verdade, havia me esquecido.
-Mas a gente sempre se lembra. -Ela sorriu e voltou pra sala.
-É. Sempre.

.....
Passaram-se alguns dias. Já estou mais habituada na escola, e talvez já tenha até feito alguns colegas por lá.
Luke? Nunca mais falei com ele. Ainda penso que talvez tudo aquilo possa ter sido um sonho.

Em uma dessas manhãs ensolaradas que passei a me acostumar aqui na Flórida, o garoto de cabelos pretos que estava quase transando com a loira (que agora tem um nome: Fran) veio falar comigo.

 -Margo Fields.
 -Sim?
 -Ainda não sabe meu nome. –ele sorriu de canto.
 -Não. –creio que ela possa ouvir as batidas aceleradas de meu coração, mas tento agir naturalmente.
 -Ian Evans.
 -Esse é mesmo seu nome, né?!
 -Claro que sim. Porque não seria?
  Penso em Luke dizendo “Não. Mas gosto de Luke.”
 -Não sei. Quem é que sabe.
 -Fiquei sabendo que você faz parte da turma das puras.
 -Turma das puras?! Isso existe?!
 -Você não fuma, fuma?
 -Não.
 -É virgem?
 -Sim.
 -É pura.
 -Tudo bem. Faço parte dessa turma.
 -Você quer um? –Ele estende a mão revelando um cigarro. Que surpresa. Penso ironicamente.
 -Você já passou mal pondo um desses na boca?
  Ele da um riso breve e responde:
 -Graças à Deus nunca. Mas já houve casos.
 -Isso é bom?
 -Experimente.
  Por algum motivo, olho em volta antes de pegar o bonitinho, e outra vez meus olhos vão de encontro com aquele par de olhos que me encarava algumas semanas atrás. Outra vez curiosos. Fiquei imaginando quanto tempo ele estaria ali, e antes de pensar de novo, peguei o cigarro da mão de Ian.



Can You Be Mine. (Fourth)

4º  Capitulo

   
Cheguei em casa e encontrei minha mãe no sofá com as mesmas roupas que usou para dormir ontem de noite. Não a culpo. Ela conheceu meu pai não tinha 15 anos e agora, puff! Ele não está mais aqui. Uma vida inteira construída ao lado dele e de repente um acidente de carro acaba com tudo. Foi uma perda horrível. Para nós duas. Mas principalmente pra ela.

 -Oi. -digo e dou um beijo em sua testa.
  Ela retribui com um sorriso, e fecha os olhos para ir a um mundo que não conheço.
  Vou a cozinha, devido ao estado dela, duvido que tenha comido alguma coisa. Então preparo o almoço. Nada muito especial. Há dias não comemos algo realmente especial. Tem sido sempre o mesmo, alguma fritura, arroz e de vez em quando uma salada.
  Depois de pronto, faço nossos pratos e vou me sentar ao seu lado para almoçarmos juntas. E pra minha surpresa ela começa uma conversa:
 -Como foi na escola?
  Sorrio e respondo:
 -Não foi tão ruim. Só a aula de filosofia. Aquele professor é um saco. Mãe! Você acredita que ele já me pediu favores?
  Ela me olha entretida e diz:
 -Você dormiu na aula dele, foi justo!
  Olhei pra ela tentando conter o riso e indignada respondo:
 -Como você sabe??
 -Sou sua mãe. E você ta com uma marquinha de baba no rosto.
  Sinto-me enrubescer e passo a mão no rosto em uma tentativa descomprometida de limpar a baba seca.
  Olhei pra ela e rimos. Mas não me senti a vontade para abraça-la.
  Terminei primeiro que ela, e insisti que ela comesse porque não queria que achassem que sou uma filha tão ruim ao ponto de não alimentar a mãe.
 -Você é a melhor filha do mundo.
  Olhei pra ela por cima do ombro, e sussurrei um eu te amo, que ela retribuiu. Fui para meu quarto.
  Lá eu podia ir para o meu mundo. Um mundo cheio de fantasias, onde não havia tristezas e nada assim. Deitei em minha cama e fitei o teto enfeitado com adesivos de estrelas. Dormi.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Third)

3º  Capitulo

  Depois de falar com Luke –ou qualquer que seja o nome dele- dei algumas voltas nos arredores da escola. Reconhecendo poucos rostos que estavam comigo na aula de filosofia e conhecendo rostos de quem provavelmente estariam comigo em literatura –como Luke, talvez.
  Tive todas as outras aulas. Pensei em Luke em todas elas.
  Droga. Pensei  ao perceber que havia esquecido um de meus livros na sala de artes. Voltei até lá só pra encontrar o garoto que vi mais cedo, super se agarrando com uma  loira desbotada e corpuda. Não a reconheci.
  Eles me olharam com espanto.
 -Bem, estamos me beijando. –ela disse.
 -Sério? Achei que estavam transando. –Peguei o livro onde o havia deixado e voltei. Ao fechar a porta pude ouvi-la dizer “Ela pensa que sou não sou virgem!”. Eles riram, e provavelmente voltaram a fazer o que eu havia interrompido.
 -Srta. Fields! –a voz tediante me chamou e virei meu corpo para ter certeza de que era o Sr. Bardola.
 -Sim?
 -Não tive a oportunidade de lhe dar um sermão mais cedo após seu longo cochilo em minha aula.
  Retiro tudo o que havia dito sobre ele não prestar atenção em nada.
 -Me.. –minha voz falhou devido a surpresa- Desculpe, Sr. Bardola. Não vai acontecer novamente.
 -Sei que não. Bem, aproveitando que saiu daquela sala agora, poderia voltar lá e colocar isto na mesa da Srta. Boyne?
 -Eu.. Mas.. Ah! Tudo bem.
 -Obrigado.
  Peguei o que ele tinha em mãos e assenti.
  Voltei à sala bufando. Mal entrei na escola e já faço favores pra professores chatos, já interrompi uma transa e estou prestes a fazer isso outra vez
 -Me desculpe, não vou atrapalhar outra vez. - entrei falando, evitei olhar, coloquei o objeto em cima da mesa, e me encaminhei à porta quando:
 -Sabe? –quem falou foi o garoto- Acho que você quer se juntar a nós.
  Eu o olhei espantada.
 -O que?! Eu nem sei seu nome! –em menos de um segundo revisei o que disse- E mesmo se soubesse eu não me juntaria a vocês. –acrescentei logo.
  Baixei a cabeça e saí.
 -ME LIGA DEPOIS!!

  Ignorei. Como iria ligar sem o número? E porque estou dando importância à isso?

domingo, 16 de novembro de 2014

Can You Be Mine. (Second)

2º  Capitulo


  Na verdade, não sei bem o que estava esperando nesse primeiro dia de aula, mas com certeza ninguém esperava que eu dormisse em minha primeira aula do meu primeiro dia na nova escola.
  Definitivamente, a filosofia daqui não é como a filosofia de lá. É tediante e repetitiva. O Sr. Bardola (meu professor) não tem interesse algum em saber se entendemos ou não sua explicação sobre qualquer que fosse o assunto do qual ele estava falando sem parar. Tanto, que nem notou meu cochilo durante sua aula. Ao contrário de duas garotas que acharam melhor me acordar para me dizerem que o sinal havia tocado e caso eu quisesse elas me acompanhariam até a próxima aula.
-Não. Muito obrigada. Mas prefiro ir sozinha para me adaptar.- Respondi da maneira mais educada que consegui. Sorri e as deixei para trás.
  Qualquer coisa que elas disseram quando me ausentei foi como um zumbido em meu ouvido.
  Minha próxima aula seria literatura. Mas descobri que o professor se ausentará da escola por uma semana ou mais. Motivo? Não faço a miníma ideia.
  Nesse período vago, achei melhor ir reconhecer os caminhos. Voltei à entrada e me encaminhei ao refeitório pelo menos umas três vezes.
  Caminho gravado. Pensei. Então comecei a fazer meu percurso de salas, não posso negar que estava parecendo uma doida andando de um lado à outro, mas aquilo me distraiu.
  Voltei à porta do Sr. Bardola. Senti que alguém me observava, mas não levantei o olhar para averiguar a figura que estava me observando há alguns metros de mim.
  Bem que podia acontecer como normalmente acontece naquelas histórias em que o garoto lindo se apaixona pela garota feia da escola. Sorri ao pensar isso. Balancei a cabeça em reprovação a meu pensamento e logo afastei isso. Levantei a cabeça e encontrei um par de olhos castanhos curiosos me encarando. Não reconheci seu rosto. O garoto esguio de cabelos castanhos emaranhados  e com um cigarro na mão e machucados em seus dedos piscou pra mim. Pude sentir o rubor em minhas bochechas e abaixei o olhar novamente.
  Não seria como naquelas histórias, porque não sou a garota mais feia e ele não é o mais lindo da escola (esse cargo se aplica ao garoto de cabelos pretos que estava encostado no carro frente ao refeitório, que vi hoje mais cedo).
  O garoto esguio de olhos e cabelos castanhos com um cigarro na mão com machucados nos dedos
que piscou pra mim ainda me olhava. Um olhar convidativo, confesso. Convidativo ao ponto de fazer com que eu me aproximasse. Mantive os olhos baixos e uma distância segura, de forma que eu poderia correr sem parecer estar fugindo de uma alcateia de lobos ferozes. Mesmo que seus olhos me parecessem olhos de lobo.
  Me encostei a mesa, esperando que se alguém tivesse que falar algo, ele se pronunciaria primeiro. Deu uma tragada em seu cigarro e, soprou a fumaça em sua frente, como se admirasse seu ato, e se chegou a mim, tomando grande parte, se não toda, da minha rota de fuga.
  Assim, tão perto, dava pra sentir seu cheiro: sabonete, cigarros –talvez o que não gastava em sabonete gastava em cigarros-e couro.
 -Seu nome? – sua voz: rouca e suave, como se eu o ouvisse de longe.
 -Margo.
 -Oi Margo.
 -Oi... Não Sei Seu Nome.
 -Me chame... Hum, de Luke. –ele estava pensando em um nome?
 -Esse é sue nome?
 -Não. Mas gosto de Luke. Fuma?
 -Não. Desculpe. –Que merda eu pedi desculpas? Eu não fumo e é um fato. Pra que pedir desculpas?!
 -Tudo bem.
 -Tudo bem.


  Ele se virou e foi.

Can You Be Mine. (First)

1º  Capítulo

  Margo Fields, 17, Canadá

  Logo no inicio do 3º ano do médio, perdi meu pai.
  Foi uma perda terrível, claro, mesmo que nós nunca tivemos uma super relação “pai e filha”.
  Minha mãe entrou em depressão, e eu finalmente me vi sozinha.
  Nunca fui de muitos amigos. Então, nesse momento, não tive ninguém com quem compartilhar minha dor, ninguém pra me confortar. Muito pelo contrário. Precisei ser forte pra dar conforto a minha mãe. Precisei ignorar minha dor pra que ela pudesse compartilhar sua dor comigo.
  Precisavamos uma da outra. E ela ainda mais.
  Nos mudamos para Flórida pra ver se com novos ares a dor resolvia começar arrumar suas coisas para partir. Talvez, se eu não precisasse estudar, teria dado certo. Mas não deu.
  Saimos da antiga cidade deixando toda uma vida para trás. Meus poucos amigos, nossa casa. Tudo ficou para trás. Literalmente tudo. Só levamos conosco a roupa do corpo e nosso carro.
  Depois de finalmente nos estabelecermos definitivamente lá, fomos para minha nova escola.
  Não foi nada como imaginei, não que eu tenha imagnado uma chuva de rosas e trombones para minha chegada, mas também não estava esperando tantos olhares em cima de mim. Estou acostumada a ser invisivel, nunca fui a atração principal de lugar algum. Mas hoje foi diferente, uma mistura de entranheza com... admiração? Não. Definitivamente não era admiração. Eu não si o que era, mas não tenho nada que pudessem admirar em mim.
  Olhei em volta e não posso negar que era um lugar bem legal, bem maior que minha antiga escola. Mas de forma alguma eu me encaixaria nesse lugar.
“Força. Ignora. E vai.” Pensei comigo. Precisava pensar assim ou não entrava lá.
  Logo de cara, no carro que estava frente à entrada do refeitorio vi  dois garotos. Não eram nada discretos, olhavam pra mim e (não) cochichavam. Abaixei a cabeça e passei por eles, ignorando os sons de suas vozes.
  Peguei meu novo horário na secretária, e logo me dirigi à sala de filosofia.
“Espero que a filosofia daqui seja como a filosofia de lá.”
  Me sentei na última carteira da sala e posicionei meus livros me minha mesa.
  Aguardei o professor entrar.
  A porta se abriu. Mas quem entrou não foi o professor, foram aqueles garotos que vi quando me encaminhava à secretaria com duas garotas (escandalosas) rindo. Olharam pra mim com tamanha indiferença e se sentaram em seus devidos lugares.

  Peguei um livro em minha mochila coloquei meus fones, e sumi do mundo.