13º Capitulo
Sim, talvez, quem sabe, tudo esteja voltando ao normal depois de uma
longa semana. Menos minha mãe, que só piora. Seus batimentos cardíacos, que
antes estavam estáveis, agora estão bem acelerados; os médicos insistem em me
dizer que está tudo bem, mas eu sei que não está.
Faltam alguns dias para o natal, e eu recebo
uma ligação de um número desconhecido.
“Ao
menos não é do hospital.”
-Alô? –atendi.
-Margo?
-VÓ TINA?!!?!?!?
-Sim meu amor! É a vovó!!
-Ai meu Deus vó!!! A que devo a honra de sua
ligação? –tentei parecer animada.
-Estou ligando para dizer que o vovô e eu
estamos indo passar o natal com vocês!!
-Comigo e com a Agatha?
-Agatha está aí? Tudo bem! Com Agatha, você e
sua mãe!
Eu queria dizer a ela que não tem natal com
minha mãe, que não tem ceia de natal sem minha mãe, que minha mãe está morrendo
no hospital, mas o choque de saber que ela não sabe sobre o estado da minha mãe
me fez congelar.
-Margo? Querida? Ainda está aí?
-Sim, vó. Desculpe.
-Então passe para sua mãe pra eu tratar das coisas da ceia com ela.
Agora eu quero gritar.
-Vó, a senhora não sabe né?
-O que eu não sei querida? –seu tom era o
mesmo ainda.
Respirei fundo e joguei:
-Vó, olha, não sei porque ela não havia te
dito, tudo bem? Eu quero que a senhora não me culpe, porque eu não fazia ideia
de que a senhora não sabia.
-O que eu...
-Deixa eu terminar. Minha mãe está internada.
Ela ta com uma depressão profunda, dessas que o paciente escolhe ficar
inconciente. Que é cedado para não sentir nada. Mas não pelos médicos, pelo
proprio cérebro. Vó não vai ter natal! Não vai ter ceia! NÃO VAI TER NATAL SE
EU NÃO TIVER MINHA MÃE. E POR FAVOR, EU NÃO PRECISO DA SENHORA AQUI COMIGO TA
BOM? EU TE AMO, MAS EU TO BEM. EU QUERO FICAR AQUI. SEM NINGUÉM. SE EU PUDESSE,
ATÉ SEM A AGATHA EU FICARIA, MAS NÃO DÁ. ELA VAI FICAR. MAS LONGE DE MIM –é
claro que ela não ficaria longe de mim, qanto mais perto de Agatha, melhor pra
mim. É obvio que eu preciso da minha avó, mas ela não precisa ver como minha
mãe está. Ela não precisa sofrer. É natal.
-Tudo bem, eu entendo –ela estava chorando
–você já está grandinha né?! Eu te amo.
-Eu também. Eu te amo muito vó.
Agora só Deus sabe o que está acontecendo lá.
Pego uma das garrafas que Agatha havia me
dado, um maço de cigarros e vou para o quarto da minha mãe. Fecho a porta e
escancaro a janela. Coloco os fones no ouvido, e fico deitada no chão, fumando
e bebendo ao som de BonJovi.
Posso ouvir alguém me chamando
desesperadamente lá embaixo, ignoro o som. Até que Luke aparece na janela do
quarto e eu o encaro.
-Como sabia que eu estaria no quarto da minha
mãe? –eu disse.
-Na verdade, eu não sabia. Essa era a janela
mais fácil de subir. –ele sorriu, até olhar para as garrafas. –Você ta bebendo
e nem me chamou?
-Na verdade, queria beber tudo sozinha.
-Afogar suas mágoas?
-Talvez até me afogar...
-Margo, você não fazia nada dessas coisas
quando chegou aqui. Quando eu te conheci, você me olhava diferente, você até me
perguntou se fumar fazia você passar mal. E agora você tá com um maço de
cigarros e garrafas de bebida junto de você. O que aconteceu?
-Você lembra de quando nos conhecemos? –fugi da
pergunta porque quis.
-Você acha que eu me esqueceria? A menina nova
e tímida que chegou na escola e ficou andando de um lado pro outro pra decorar
os caminhos das salas de aula, e... me pediu desculpas por não fumar. –ele riu.
-EI! –ri junto dele. –Não é justo, eu te achei
um gato e fiquei com muita vergonha quando você veio falar comigo. Você foi um
colírio para os meus... –parei de falar quando percebi o que havia falado. Ele
estava me olhando fundo nos olhos.
Ele balançou a cabeça como siando de um
devaneio e disse:
-Um colírio para os seus olhos? Olha, não
posso negar, eu também te achei bem bonitinha.
-Bonitinha? Só isso?
-Ah, eu sou homem, não posso sair dizendo pra
todas as garotas gatas que eu as acho muito gatas. Então, só bonitinha.
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